quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A enxurrada enganosa de grandes ideias


Boa a matéria “The elusive great idea” de Neal Gabler, publicada no The New York Times em 14 de agosto de 2011, traduzida na íntegra pelo Estadão, no caderno Internacional em 21 de Agosto de 2011.


A enxurrada de enganosa grandes ideias

No mundo pós-ideia, recebemos trilhões de dados, muitas vezes insignificantes, sem parar para pensar

O número de julho/agosto de The Atlantic alardeia as “14 Maiores Ideias do Ano”. Prenda o fôlego. As ideias incluem “Os jogadores são os donos do jogo” (n.º 12), “Wall Street: a mesma de sempre” (n.º 6), “Nada permanece secreto!” (n.º 2), e a maior de todas do ano, “A ascensão da classe média – só que não a nossa”, que se refere às economias em crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China.
Pode soltar o ar. O leitor deve achar que nenhuma dessas ideias parece particularmente de tirar o fôlego. Nenhuma delas, aliás, é uma ideia.
Elas são mais observações. Mas não se deve culpar The Atlantic por confundir lugares comuns com visão intelectual. As ideias simplesmente não são o que costumavam ser. Em um passado distante, elas podiam acender debates, estimular outros pensamentos, incitar revoluções e mudar fundamentalmente as maneiras como observamos e pensamos o mundo.
Elas podiam penetrar na cultura geral e transformar pensadores em celebridades – notadamente Albert Einstein, mas também Reinhold Niebuhr, Daniel Bell, Betty Friedan, Carl Sagan e Stephen Jay Gould, para citar alguns. As próprias ideias podiam se tornar famosas: por exemplo, “o fim da ideologia”, “o meio é a mensagem”, “a mística feminina”, “a teoria do Big Bang”, “o fim da história”. A grande ideia podia ganhar a capa da revista Time – “Deus está morto?” – e intelectuais como Norman Mailer, William F. Buckley Jr. e Gore Vidal seriam eventualmente convidados para as poltronas dos talk shows de fim de noite. Isso foi há uma eternidade.
Se nossas ideias parecem menores hoje, não é porque somos mais burros do que nossos antepassados, mas simplesmente porque não ligamos tanto para as ideias quanto eles ligavam. Aliás, estamos vivendo cada vez mais em um mundo pós-ideia – um mundo em que as ideias grandes, as que fazem pensar, que não podem ser instantaneamente monetizadas, têm tão pouco valor intrínseco que menos pessoas as estão gerando e menos canais as estão disseminando, a despeito da internet. As ideias ousadas estão praticamente fora de moda.
Argumento lógico. Não é segredo, especialmente nos Estados Unidos, que vivemos numa era pós-Iluminismo na qual racionalidade, ciência, argumento lógico e debate perderam a batalha em muitos setores e, talvez, até na sociedade em geral, para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Embora continuemos fazendo avanços tecnológicos gigantescos, podemos estar na primeira geração que girou para trás o relógio da história – que retrocedeu intelectualmente de modos avançados de pensar para os velhos modos das crenças. Mas pós-Iluminismo e pós-ideia, embora relacionados, não são exatamente a mesma coisa.
Pós-Iluminismo refere-se a um estilo de pensar que já não mobiliza as técnicas do pensamento racional. Pós-ideia refere-se ao pensar que não é mais feito, independentemente do estilo.
O mundo pós-ideia vem se aproximando faz tempo, e muitos fatores contribuíram para isso. Vemos o recuo nas universidades do mundo real, e um encorajamento, e premiação, da especialização mais estreita em lugar da ousadia – de cuidar de plantas envasadas em vez de plantar florestas.
Vemos o eclipse do intelectual público na mídia em geral pelo sabichão que substitui extravagâncias por ponderação, e o concomitante declínio do ensaio em revistas de interesse geral. E temos a ascensão de uma cultura cada vez mais visual, especialmente entre os jovens – uma forma menos favorável à expressão de ideias.
Mas esses fatores, que começaram há décadas, foram mais provavelmente arautos do advento de um mundo pós-ideia que suas causas principais.
Vivemos na muito alardeada Era da Informação. Por cortesia da internet, temos a impressão de ter acesso imediato a tudo que alguém poderia querer saber. Certamente somos mais bem informados em história, ao menos quantitativamente. Há trilhões e trilhões de bytes circulando no éter – tudo para ser colhido e ser objeto de pensamento.
E é precisamente essa a questão. No passado, nós colhíamos informações não só para saber coisas. Isso era apenas o começo. Nós também colhíamos informações para convertê-las em alguma coisa maior que fatos e, em última análise, mais útil – em ideias que explicavam as informações. Buscávamos não só apreender o mundo, mas realmente compreendê-lo, que é a função primordial das ideias. Grandes ideias explicam o mundo e nos explicam uns aos outros.
Karl Marx chamou a atenção para a relação entre os meios de produção e nossos sistemas sociais e políticos. Sigmund Freud nos ensinou a explorar nossas mentes como meio para compreender nossas emoções e comportamentos. Einstein reescreveu a física. Mais recentemente, Marshall McLuhan teorizou sobre a natureza da comunicação moderna e seu efeito na vida moderna. Essas ideias permitiram que nos desprendêssemos de nossa existência e tentássemos responder as grandes e atemorizantes questões de nossas vidas.
Mas se a informação foi um dia um alimento de ideias, na última década ela se tornou sua concorrente. Estamos como o agricultor que possui trigo demais para fabricar farinha. Somos inundados por tanta informação que não teríamos tempo para processá-la mesmo que o quiséssemos, e a maioria de nós não quer.
A coleta em si é cansativa: o que cada um de nossos amigos está fazendo neste particular momento, e no momento seguinte, e no seguinte; com quem Jennifer Aniston está saindo agora; qual video se tornará viral no YouTube neste momento; o que a princesa Letizia ou Kate Middleton estão usando hoje. Aliás, estamos vivendo dentro da nuvem de uma Lei de Gresham informática onde informações triviais expulsam informações significativas, mas trata-se também uma lei de Gresham nocional em que as informações, triviais ou não, expulsam ideias.

Preferimos conhecer a pensar porque o conhecer tem mais valor imediato.

Ele nos mantém “por dentro”, nos mantém conectados com nossos amigos e nossa tribo. As ideias são tão etéreas, tão pouco práticas, trabalho demais para recompensa de menos. Poucos falam ideias. Todos falam informação, geralmente informação pessoal. Onde é que você vai? O que está fazendo? Quem você anda vendo? Estas são as grandes questões de hoje.
Não é por acaso, com certeza, que o mundo pós-ideia brotou com o mundo das redes de relacionamento social. Apesar de haver sites e blogs dedicados a ideias, Twitter, Facebook, Myspace, etc ., os sites mais populares na web, são basicamente bolsas de informações destinadas a alimentar a fome insaciável de informação, embora essa dificilmente seja do tipo de informação que gera ideias. Ela é, em grande parte, inútil exceto na medida em que faz o possuidor da informação se sentir, bem… informado. Evidentemente, pode-se argumentar que esses sites não são diferentes do que a conversa era para gerações anteriores, e a conversa raramente criava grandes ideias, e se estaria certo.
Mas a analogia não é perfeita. Em primeiro lugar, os sites de relacionamento social são a principal forma de comunicação entre jovens, e estão suplantando os meios impressos, que é onde as ideias eram tipicamente gestadas. Depois, os sites de relacionamento social criam hábitos mentais que são inimigos do tipo de discurso deliberado que dá origem a ideias. Em lugar de teorias, hipóteses e argumentos importantes, obtemos tuítes instantâneos de 140 caracteres sobre comer um sanduíche ou assistir um programa de TV.
Universo intelectual. Embora as redes sociais possam alargar o círculo pessoal de alguém e até apresentá-lo a estranhos, isso não é mesma coisa que alargar o universo intelectual pessoal. Aliás, a tagarelice das redes sociais tende a encolher o universo da pessoa a ela mesma e seus amigos, enquanto pensamentos organizados em palavras, seja online seja na página impressa, alargam o foco pessoal.
Parafraseando o ditado famoso, geralmente atribuído ao jogador de beisebol americano “Yogi” Berra, de que não dá para pensar e rebater ao mesmo tempo, também não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar – que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas – é uma forma de distração e anti-pensamento.
As implicações para uma sociedade que não pensa grande são enormes. As ideias não são meros brinquedos intelectuais. Elas têm consequências práticas.
Um artista amigo lamentou recentemente que sentia o mundo da arte à deriva, pois não havia mais grandes críticos como Harold Rosenberg e Clement Greenberg para oferecer teorias da arte que poderiam fazer a arte frutificar e se revigorar. Outro amigo desenvolveu um argumento parecido sobre política. Embora os partidos debatam sobre quanto cortar no orçamento, ele gostaria de saber onde estão os John Rawises e Robert Nozicks que poderiam elevar o nível de nossa política.
Abundância de dados. O mesmo seguramente poderia ser dito da economia, onde John Maynard Keynes continua sendo o centro do debate quase 80 anos depois de propor sua teoria de injeção de estímulos pelo governo. Isso não significa que os sucessores de Rosenberg, Rawls e Keynes não existam, apenas que, se existirem, eles provavelmente não ganharão tração numa cultura que tem tão pouco uso para ideias, especialmente as grandes, excitantes e perigosas, e isso é verdade quer as ideias venham de acadêmicos ou de outros que não fazem parte de organizações de elite e desafiam a sabedoria convencional. Todos os pensadores são vítimas da abundância de informação, e as ideias dos pensadores de hoje também são vítimas dessa abundância.
Mas é especialmente verdade para grandes pensadores nas ciências sociais como o psicólogo cognitivo Steven Pinker, que teorizou sobre tudo – da origem da linguagem ao papel da genética na natureza humana -, ou o biólogo Richard Dawkins, que teve ideias grandes e controvertidas sobre tudo – do egoísmo a Deus -, ou o psicólogo Jonathan Haidt, que analisou sistemas morais diferentes e extraiu conclusões fascinantes sobre a relação – de moralidade a crenças políticas.
Mas como eles são cientistas e empíricos e não generalistas nas humanidades, o lugar a partir do qual as ideias eram costumeiramente popularizadas, eles sofrem um duplo golpe: não só o golpe contra as ideias em geral, mas o golpe contra a ciência, que é tipicamente considerada na mídia, na melhor hipótese, como mistificadora, na pior, como incompreensível. Uma geração atrás, esses homens teriam chegado a revistas populares e às telas da televisão. Agora, eles são expelidos pelo eflúvio informacional.
Alguém certamente dirá que as grandes ideias migraram para o mercado, mas há uma enorme diferença entre invenções com fins lucrativos e pensamentos intelectualmente desafiadores. Empresários têm muitas ideias, e alguns, como Steve Jobs, da Apple, trouxeram algumas ideias brilhantes no sentido “inovador” da palavra.
Mas, embora essas ideias possam mudar a maneira como vivemos, elas raramente transformam a maneira como pensamos. Elas são materiais, não nocionais. São os pensadores que estão em falta, e a situação provavelmente não vai mudar tão cedo.
Nós nos tornamos narcisistas da informação, tão desinteressados por qualquer coisa fora de nós e de nossos círculos de amizade ou por qualquer petisco que não possamos partilhar com esses amigos que se um Marx ou um Nietzsche surgisse subitamente trombeteando suas ideias, ninguém lhe daria a menor atenção, certamente não a mídia em geral, que aprendeu a servir ao nosso narcisismo.
O que o futuro pressagia é cada vez mais informação – Everests dela. Não haverá nada que não conheçamos. Mas não haverá ninguém pensando nisso. Pense nisso.
TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É BOLSISTA SÊNIOR NO ANNENBERG NORMAN LEAR CENTER DA UNIVERSIDADE DO SUL DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE “WALT DISNEY: THE TRIUMPH OF THE AMERICAN IMAGINATION”

Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM)



Uma carta de Mário de Andrade (1893 - 1945) a Lasar Segall (1891 - 1957), datada de 9 de fevereiro de 1931, permite apreender o espírito que redunda na criação da Sociedade Pró-Arte Moderna - Spam, fundada em 1932 na cidade de São Paulo. Diz o poeta e crítico: 

"... uma coisa que vai alegrar você - a quase realização daquela nossa velha idéia, lembra-se? - de um centro de arte moderna juntamente com d. Olívia Guedes Penteado e com outras algumas senhoras de nossa melhor sociedade; estou tentando dar a essa idéia uma forma palpável, útil. Creio que faremos para principiar uma espécie de club que se chamará 'Sala Moderna', na qual exporemos quadros, estátuas, livros e faremos ouvir musicistas, escritores exclusivamente modernos, nacionais e estrangeiros". Agrupamento de artistas de diversas áreas, afinados com o ideário moderno e modernista, e de setores da elite paulistana, com vistas a promover a arte em reuniões e festas (o que lhe confere um acentuado caráter mundano), eis o perfil do grupo definido em 23 de novembro, na casa do arquiteto Gregori Warchavchik (1896 - 1972), mas oficialmente criado em 22 de dezembro do mesmo ano, em uma reunião na casa da bailarina Chinita Ulmann. Dessas primeiras reuniões da Sociedade participam: Anita Malfatti (1889 - 1964), Paulo Prado (1869 - 1943), Lasar Segall, Camargo Guarnieri (1907 - 1993), Hugo Adami (1899 - 1999), Mário de Andrade, Mina Klabin Warchavichik, Rossi Osir (1890 - 1959)Tarsila do Amaral (1886 - 1973)John Graz (1891 - 1980)Regina Graz (1897 - 1973)Vittorio Gobbis (1894 - 1968)Wasth Rodrigues (1891 - 1957), Olívia Guedes Penteado (1872 - 1934), Antonio Gomide (1895 - 1967)Sérgio Milliet (1898 - 1966), Menotti del Picchia (1892 - 1988), Paulo Mendes de Almeida (1905 - 1986), Jenny Klabin Segall (1901 - 1967), Alice Rossi, entre outros.

Após a formulação dos estatutos e da eleição da primeira comissão executiva da entidade (em 27 de dezembro de 1932, na casa de d. Olívia), a Spam promulga os seus objetivos, em 1933, no catálogo da 1ª Exposição de Arte Moderna, por ela organizada e que reúne 100 obras de artistas modernos nacionais (de Anita, Tarsila, Segall etc.) e de nomes da arte moderna internacional, com trabalhos das coleções particulares de d. Olívia, Paulo Prado, Mário de Andrade, Samuel Ribeiro e Tarsila do Amaral. São exibidas aí obras de Pablo Picasso (1881 - 1973), Fernand Léger (1881 - 1955), Brancusi (1976 - 1957), André Lhote (1885 - 1962), entre outros. Ao apresentar a exposição, o grupo apresenta também a entidade, que visa "estreitar as relações entre artistas e pessoas que se interessam pela arte em todas as suas manifestações"; promover exposições, concertos, reuniões literárias e dançantes; realizar sorteio de obras entre os membros; e criar uma sede social que se torne um espaço de festas e exibições.

As festividades, tão enfatizadas nos documentos da Sociedade, são de fato seus pontos altos. O réveillon de 1932/1933, São Silvestre em Farrapos, dá visibilidade ao grupo, além de permitir arrecadar fundos. Os painéis que decoram as paredes são todos de autoria de Segall. Em fevereiro de 1933, um baile carnavalesco, também idealizado por Segall, O Carnaval na Cidade da Spam, é realizado no "Trocadero" (atrás do Theatro Municipal). O artista planeja e executa a decoração da festa, atento aos mínimos detalhes. O convite, com desenho de Segall e poema de Mário de Andrade, apresenta as atrações da cidade imaginária: "O circo de Spam! O monumento de Spam! O presídio de Spam! O jardim zoológico de Spam! Os restaurantes e quiosques de Spam!". "O circo", que abre o convite, dá título ao grande painel que cobre toda a parede de entrada do salão. Um hino (criado por Camargo Guarnieri) acompanha o cortejo na praça Pública da Spam, onde os participantes trajam fantasias concebidas por Segall, Esther Bessel, Jenny Segall e John Graz. Na madrugada, circula o jornal A Vida de Spam, dirigido por Mário de Andrade, Antônio de Alcântara Machado (1901 - 1935) e Sérgio Milliet (1898 - 1966). A festa pode ser vista como uma ampla criação coletiva, dirigida por Segall, que envolve pintura, música, literatura e esquetes teatrais.

O sucesso do evento permite o aluguel da sede, inaugurada em agosto de 1933, no quinto andar do palacete Campinas, na praça da República. Nesse espaço, o grupo organiza encontros musicais - com Francisco Mignoni, Fructuoso Viana e Lavínia Viotti - e conferências - Anita Malfatti, Procópio Ferreira (1898 - 1979), Hermes Lima, entre outros -, cria uma biblioteca com revistas de arte nacionais e estrangeiras, organiza sessões de desenho com modelo-vivo no ateliê. É na nova sede, em 1933, que a Spam promove a sua segunda exposição, desta vez com artistas do Rio de Janeiro como Candido Portinari (1903 - 1962)Di Cavalcanti (1897 - 1976) e Guignard (1896 - 1962). A necessidade de arrecadação de fundos para manutenção das despesas leva à organização de um segundo baile carnavalesco, mais uma vez projetado por Segall, Uma Expedição às Selvas da Spamolândia, realizado no amplo espaço do Rink São Paulo, antigo rinque de patinação. Colaboram na decoração: Anita Malfatti, Rossi Osir, Paulo Mendes de Almeida (1905 - 1986), Gastão Worms (1905 - 1967) e outros; a coreografia dos bailados exóticos fica a cargo de Chinita Ulmann e Kitty Bodenheim; a música, sob a responsabilidade de Camargo Guarnieri e Ernest Mehlich. Uma vez mais, realiza-se uma grande festa temática que envolve as diversas artes. Dessa vez, o motivo é a selva - animais insólitos, plantas tropicais, elementos da arte e da vida indígena. Alguns comentadores afirmam que Segall recria uma atmosfera mágica e alegórica inspirada no romance Macunaíma, de Mário de Andrade. Outros preferem insistir na manutenção do tom expressionista, utilizado na composição da cidade do primeiro baile, e da selva, neste segundo. O sucesso do baile não permite sanar as dívidas financeiras da entidade. Além disso, várias manifestações de repúdio aos "excessos" da festa tomam a imprensa. Fala-se também em dissensões no interior do grupo, que passariam, algumas delas, por uma cisão entre o "grupo dos grã-finos" e o dos "judeus". Todos esses fatores levam a que, em 1934, Segall - a "alma da Spam", segundo Paulo Mendes de Almeida - proponha a extinção da Sociedade.

A consideração das atividades da Sociedade Pró-Arte Moderna permite medir a temperatura artística da década de 1930, momento de "rotinização" dos ideais estéticos gestados em 1922, nos termos de Antonio Candido (1918). A Spam remete a um contexto artístico marcado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e da atuação dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como o Clube dos Artistas Modernos - CAM (1932), o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937), são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural das duas cidades. Tributários das conquistas estéticas do modernismo, os grupos dialogam, cada qual à sua maneira, com esse legado recente. A Spam, capitaneada por Lasar Segall, tem como principais integrantes figuras do primeiro modernismo e parece filiar-se mais diretamente à pauta elaborada pelos organizadores da Semana de Arte Moderna.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

domingo, 22 de maio de 2011